Fotocatálise e equipamentos de ionização bipolar

O tema “Certificação e Testes de Purificadores de Ar Ativos” foi destaque no Portal Facility Management Latinoamérica em entrevista concedida por Ricardo Cherem de Abreu, diretor técnico da Dannenge International, também apresentada durante o Congresso Tecnoedifícios.

Segue abaixo a entrevista na íntegra, também disponível no Portal Facility Management Latinoamérica em https://facilitylatinoamerica.com/2022/01/29/nota-certificacion-y-ensayos-de-purificadores-activos-de-aire-ricardo-cherem-de-abreu-director-tecnico-dannenge-international/

FML: Como você acha que a aplicação de sistemas de purificação vem se desenvolvendo na América Latina?

RC: Referimo-nos a fotocatálise. É uma tecnologia nova, mas em termos de custos requer o menor investimento e, em comparação com outras, proporcionará economia de energia. No entanto, isso não é quantificado porque a dificuldade hoje é comparar as diferentes tecnologias. E foi isso que tentei fazer [na minha apresentação] comparando diferentes tecnologias e mostrando que existem maneiras de fazer isso. Na América Latina, a fotocatálise já está sendo aplicada em edificações de todos os tipos: hospitais, empresas, restaurantes, cinemas, teatros, com relevante importância em salas de aula, sendo a única maneira de proteger os alunos, por exemplo. É uma área onde nada está acontecendo, não só no Brasil, mas também na Europa. Nos Estados Unidos, foi instituído um programa de purificação de ar em escolas, onde foram aplicados muitos equipamentos de fotocatálise e ionização bipolar, por serem eficazes. Nos EUA, na minha opinião, foi feito um investimento real, portanto, considero que as crianças americanas estão mais seguras que as nossas.

FML: Considera que existe alguma barreira à sua plena divulgação?

RC: Existem três barreiras para a difusão da fotocatálise: A primeira é a ignorância, porque essa tecnologia não é conhecida, por isso é muito importante levar a mensagem aos engenheiros, aos projetistas, porque as especificações sairão deles. O segundo ponto é que algum tipo de investimento é necessário, porque definitivamente tem que ser feito. E o terceiro ponto é o pensamento conservador, porque os engenheiros argumentam que existe ventilação ou filtragem, achando que aumentar a ventilação ou filtragem é suficiente, mas não há nada que garanta isso. O pior é que o investimento para tornar os sistemas mais eficientes (aumentando a ventilação ou o grau de filtragem) é tão grande que também é evitado. Quando uma nova tecnologia é apresentada, a resistência sempre persiste ao entender que será caro, ainda mais caro que ventilar ou filtrar, decidindo-se pelo não investimento.

FML: Das tecnologias que foram incluídas na sua apresentação, qual é o sistema de purificação do ar que considera o mais utilizado?

RC: Depende. Os Estados Unidos são o maior mercado do mundo para novas tecnologias. Quando me refiro a novas tecnologias, refiro-me à ionização bipolar e a fotocatálise, embora esta última seja uma tecnologia mais proeminente na Europa e na América Latina do que nos Estados Unidos, visto que os europeus vêm a estudando para aplicações em prédios, para pintura externa, em pavimentação de ruas e calçadas, porque para limpar a cidade é muito eficaz. Até o México, há três anos, realizou um concurso de soluções para limpar a cidade, ganhando a tinta fotocatalítica. Na Itália, França, Espanha, Portugal existem incentivos para quem pinta a casa com tinta fotocatalítica. Da mesma forma, nas cidades de San Diego e Los Angeles na Califórnia. É uma solução que funciona muito bem em ambientes externos como também em ambientes internos. Por isso, considero que é a tecnologia com maior potencial, pois sua base é o efeito do peróxido de hidrogênio, que em sua forma gasosa é um gás amigável, não nos prejudica. Pelo contrário, hoje se sabe que tecnologias como o ozônio funcionam bem na desinfecção, mas prejudicam a saúde humana, por isso é proibida pois é agressiva e não amigável.

FML: Existe algum tipo de tecnologia ou sistema de purificação, ideal para um determinado local ou ambiente, ou seja, para hospitais, shopping centers ou escritórios?

RC: Não existe essa diferenciação em nenhuma tecnologia, nem na ventilação, o que se sabe é que quanto mais poluído um ambiente, mais é preciso ventilar, portanto, o fluxo de ventilação será maior, independente de ser uma sala de cinema, showroom ou hall de um shopping center. Nos hospitais esse conceito é o mesmo, em uma área de internação onde há apenas um paciente, a ventilação é como em casa, não é necessária grande ventilação, mas na sala de terapia intensiva, onde há uma concentração maior de pessoas que podem contaminar o ambiente, aí devemos aplicar altas taxas de ventilação, e o mesmo pode ser dito da filtração. Devido ao exposto, não há distinção do uso das tecnologias, mas sim de como elas são aplicadas.

 

FML: Você acha que os fabricantes informam adequadamente sobre as características de seus produtos, a fim de realizar um projeto adequado? Talvez existam barreiras à interpretação devido ao idioma?

RC: Esse é o maior problema que temos na engenharia hoje, é o maior desafio para engenheiros e fabricantes. Devemos ter um padrão que permita a nós, engenheiros, normalizar as tecnologias que devemos aplicar e até que ponto aplicá-las para que tenhamos um bom resultado. Esse problema é a mensagem que trouxe a todos, pois temos que fazer um esforço enorme para que possamos obter essa informação.

FML: Existe algum equipamento ou tecnologia que exija algum cuidado extra ao projetar ou empregar algum tipo de tecnologia de purificação? Do ponto de vista da saúde dos ocupantes do meio ambiente.

RC: A tecnologia da ionização bipolar é muito eficiente, muito eficaz para o ar que passa pelos ionizadores, mas é preciso ter cuidado com a potência do equipamento porque, por ser baseado em eletricidade eletrostática, existe o perigo de causar descargas. Essas descargas elétricas geram ozônio, que nos prejudica. Esta é a razão pela qual existem fabricantes que aplicam a ionização bipolar, mas como equipamento auxiliar, ou seja, equipamento adicional, não como equipamento principal. Outra tecnologia que produz ozônio, que talvez a gente não conheça, ou não dê importância, são as lâmpadas ultravioletas, porque são muito eficientes para proteger as superfícies, fazem um bom trabalho. Mas se aplicarmos para desinfetar o ar, teremos que implementar uma grande potência elétrica para que seja eficaz, além disso, a produção de ozônio será muito grande.

 

FML: Como você acha que essa indústria se desenvolverá no futuro? Que outros tipos de tecnologias veremos nos próximos anos?

RC: Hoje, temos um problema que está causando muita discussão, e é a transmissão aérea, reconhecida como o meio mais importante de transmissão da COVID-19. Mas lembrando moléstias como a tuberculose, que se espalha pelo ar, ou a gripe que matou milhões de pessoas nos anos 1900, na época, chamada de gripe espanhola, as consequências da COVID ainda são pequenas, mas via de transmissão é a mesma. Porém, hoje temos o problema do ar condicionado e dos prédios fechados. Nós engenheiros temos que promover soluções para este desafio. Certamente temos engenheiros muito bons na América Latina. Temos certeza de que a solução é que os próximos sistemas tenham purificação do ar integrada ao projeto. Existem outras soluções, como a difusão do ar pelo piso, que ganhará muita relevância. Entendendo que se a movimentação do ar for uniforme, de baixo para cima, os contaminantes são levados para fora da zona de ocupação, então há, aliás, um grande futuro para a difusão do ar pelo piso.

Ricardo Cherem de Abreu é engenheiro e diretor técnico da Dannenge International, graduado em Engenharia Mecânica pela UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina); Mestre em Ciências, especialidade Termotécnica pela Universidade Federal de Santa Catarina.
Com larga experiência nas áreas de projetos, instalação, operação e manutenção do sistema HVAC, atualmente atua na área de engenharia de aplicação e suporte técnico para clientes da Dannenge International.